Um Velho sem historias para contar

Um Velho sem historias para contar

A Poem by rafaelcorreia_aa
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Here are 3 poems that link together to carve out countless aspects of my experience as a Human.

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Página 1 - Sem Nome (23/1/2024)

Nunca sei o que escrever.
Mas sei sempre como.
Não é difícil, pego num lápis e
arrasto-o pela folha formando letras.
O problema é o assunto.
Não me falta criatividade, 
essa fome eu não tenho.
Posso facilmente escrever sobre
aquelas almofadas azuis que 
me afogam, ou a tesoura que poda 
o bonsai de maneira inexperiente.
Mas é sempre mais que isso.
Há sempre algo por trás que
requer sujidade, requer terra
debaixo das unhas para ser 
compreendido.
Depois, tenho dias como hoje.
Dias limpos.
Calmos.
Sem sujidade, sem significado.
Não o posso chamar de vazio pois
esta é a paz que tanto quero.
Mas quando finalmente a tenho
sinto-me inútil.
Um boneco de madeira que escreve
em carvão sem acesso á borracha.
Um velho sem historias para contar.

Página 2 - Sem Nome (7/2/2024)

Escrevo uma carta com as cinzas.
Não sei se o posso exatamente chamar de escrita
se apenas contorno palavras que já se marcaram.
Mas é reconfortante para o bloqueio criativo.
Não ter de banhar a minha alma em mais 
um papel discreto.
Só quero escrever no papel de quem lê.
Ou seja, um roteiro, quero entregar as minhas
cinzas ao meu lápis, parti-lo e espalhar por cada
pessoa que perdi a chance de amar.
E ai sei que serei lembrado.
Lembrado como um Velho.
Um Velho sem historias para contar.

Páginas 3 & 4 - Controvérsias de um Velho (19/7/2024)

Quero que chova.
Amo o céu azul e limpo mas,
não me é necessário.
Quero que chova.
Odeio molhar-me, desprezo
o cheiro das minhas roupas
encharcadas.
Quero que Troveje.
Amo o som anestesiante dos
pássaros mas, lembram-me
que tenho de abrir os olhos.
Quero que Troveje.
Odeio os clarões de luz que
despertam-me cada vez mais.
Quero o desconforto.
Dele eu não desconfio,
ele diz ser quem é,
sem mentiras atreladas.
Quero o desconforto.
Porque é me esperado e
nunca me surpreende.
Odeio a falsa esperança
emanada por manhas ensolaradas
Odeio o alerta alegre que os
pássaros me trazem.
Odeio o desconforto constante.
Mas preciso dele para ser 
quem sou.
Para ser o que sou.
Já tive conforto suficiente,
anos e anos de ar puro.
Agora quero sujar-me.
Como uma criança que nunca fui.
Quero aqueles joelhos
que jorram sangue.
E o sorriso que marca uma nova
historia para contar.
Mas já sou velho.
Vivo em um trono carregado
por memorias não feitas.
E o sorriso derreteu-se
com a perda dos dentes.
A mão fraqueja enquanto
escrevo isto.
Não que tenha muito mais
para escrever.
Já vou tarde por ter
começado cedo.
Afinal,
Sou só um velho sem
historias para contar.

© 2024 rafaelcorreia_aa


Author's Note

rafaelcorreia_aa
I've decided to post this sequence in Portuguese because I feel I wouldn't be able to convey exactly what I intend with non-native words.

Apologies for any inconvenience, have a nice read.

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Added on December 1, 2024
Last Updated on December 1, 2024

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rafaelcorreia_aa
rafaelcorreia_aa

Portugal



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I'm just a novice Portuguese writer (has a hobby) :3 more..

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