A Vida Em Duas VozesA Chapter by Rafael Castellar das NevesQualquer inclinação à passividade deve ser excomungada; é uma postura covarde e corrosiva à vida.
I - Ativa
Eu nasci e comi, Eu olhei e sorri, Eu cresci e andei, Eu corri e brinquei, Eu falei e me transformei.
Eu descobri e temi, Eu me apaixonei e chorei, Eu me rebelei e experimentei, Eu me assustei e até xinguei.
Eu me arrepiei e estremeci, Eu perdi e conquistei, Eu me perdi e me reencontrei, Eu gritei e me envergonhei.
Eu comunguei e multipliquei, Eu lutei e falhei, Eu tentei e ganhei, Eu sorri e sempre chorei, Eu provei e me lambuzei.
Eu caí e me levantei, Eu balancei e me esquivei, Eu aprendi e reconheci, Eu esqueci e nem me lembrei, Eu renasci com os meus dos meus.
Eu revi e antevi, Eu encorajei e ouvi, Eu senti e não me arrependi, Eu cantei e dancei, Eu abracei e beijei.
Eu me espantei quando enruguei, Eu me assustei e aceitei, Eu parti, nem me despedi, Eu descansei e nada mais eu vi, Eu passei e não me arrependi.
II - Passiva
Eu fui trazido à luz e alimentado, Mostraram-me e me fizeram rir, Eu fui criado e posto a andar, Fizeram-me correr e brincar, Ensinaram-me a falar e me transformaram.
Eu fui instruído e passei a temer, Eu fui envolvido e me fizeram chorar, Rebelaram-se contra mim e me fizeram experimentar, Assustaram-me e me fizeram xingar.
Arrepiaram-me e estremeceram-me, Tomaram de mim e não deixaram conquistar, Desviaram-me e não me mostraram o caminho, Fizeram-me gritar e me envergonharam.
Comungaram o que era meu e me exigiram a multiplicação, Lutaram comigo e me humilharam, Eu fui cercado e derrotado, Eu fui injustiçado e me fizeram chorar, Enfiaram-me goela abaixo e vomitei.
Derrubaram-me e ninguém me levantou, Fui empurrado e passaram rasteira, Ensinaram-me, mas errado, Lembram-me do que me fizeram, Estagnaram-me a ver tudo que se repete [é assim mesmo].
Fizeram-me rever tudo de novo, Não me encorajaram e nem me ouviram, Fizeram me sentir para eu me arrepender, Cantaram e dançaram minha derrota, Não fui abraçado e nem beijado.
Ignoraram o quanto me estragaram, Envelheceram-me sem me perguntar, A vida me levou e nem se despediram, Restou-me o descanso da injustiça que vivi, Fui passado e esquecido, jamais lembrado.
São Paulo, 08 de julho de 2013. © 2015 Rafael Castellar das Neves |
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Added on December 4, 2015 Last Updated on December 4, 2015 AuthorRafael Castellar das NevesSao Paulo, Sudeste, BrazilAboutNascido em Santa Gertrudes, interior de São Paulo, formado em Engenharia de Computação e um entusiasta pela literatura, buscando nela formas de expressão, por meio de cr&oc.. more..Writing
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