Carta ao Amigo Infeliz

Carta ao Amigo Infeliz

A Chapter by Rafael Castellar das Neves

Caro amigo infeliz,

 

Foi com muito pesar que terminei de ler a sua carta. É triste saber que não acha na vida mais a felicidade. É triste saber que aborrecido é como tem se encontrado. É triste saber que se encontra estagnado nem mesmo vendo a vida passar. É triste vê-lo inútil diante de si mesmo, resmungando aos outros as suas responsabilidades, pois, acredite amigo, ninguém pode fazer nada por si que não você mesmo.

A sua falta de alegria não é culpa do mundo, aliás, pode até ser; mas a sua continuidade não. Não é culpa do mundo ou de outrem que continua você sem felicidade, sem alegria. É sua! Penso que esteja revoltado ao ler isso, mas precisa se conscientizar. De nada adianta aos outros atribuir esta culpa que é sua.

A felicidade está em todos os lugares, em todos os momentos e em todas as coisas. Difícil de ver, concordo, mas apenas enquanto nosso orgulho e nossas dificuldades diante da própria derrota nos caem como uma névoa escura.

É preciso um força que vem de dentro, um querer verdadeiro de ver novamente, para dissipá-la. Atente os olhos, não com esforço, mas com a simplicidade do coração. Olhe, não procure. Sinta, não busque. Continue, não espere. Inale o mundo, entorpeça-se dele, não o respire. Alargue os passos e não corra. Deixe que o redemoinho de pensamentos aconteça, não se concentre. Ouça tudo como música, não apure. Saboreie de tudo, não tente se saciar. Reflita a si mesmo, não o que poderia e deveria ser (você não sabe!). Transforme-se em todas as formas, não assuma uma. Mude, sempre mude, não se adapte, mude, mude porque sim, mude para viver, mude para ser o tudo em sua própria vida, permita-se mudar, não apenas queria, mude! Mude aos poucos, mude aos muitos, mude o que já mudou, mantenha a mudança, mude, de novo!

Procure a simplicidade e a inocência do sorriso de uma criança. Inveje as rugas nos olhares cansados dos mais velhos. Sinta a dor dos rostos tristes que cruzam seu caminho. Ria com os sorrisos que lhe passem. Atravesse a rua em um lugar diferente, mude seu caminho mais vezes. Misture as cores e faça tons novos. Mude seus gostos. Cante! Orgulhe-se do que pode ser, não do que tem. Faça caminhos, pule sobre as pedras, deite os galhos tortos e espinhentos. Deite em um riacho e se refresque. Continue... Foque, desfoque, foque. Despenteie-se. Ria, sem motivo algum. Não consegue? Então ria da ironia de não ter motivo. Admire as formas e estilos diferentes. Admire a você! Mude!

Mas nunca, meu amigo, nunca atribua a culpa da continuidade da sua infelicidade a alguém que não seja você mesmo. Fazer isso não resolve em nada o seu problema, causa estagnação e o torna rabugento, além de magoar aqueles que querem o seu bem, mas não sabem como fazer, pois depende de você. A estes, peça licença e volte sorrindo, abrace-os como nunca! Quanto aos que não se importam, tire-os de sua vida como se tira do talo o espinho lhe espeta a mão ao apanhar uma rosa. Jogue para longe.

A felicidade está por aí, como sempre esteve: espalhada em pequenas doses para que não nos entojemos dela e a tornemos comum, pois o comum é algo novo e gracioso que tanto nos fez bem e depois o colocamos em uma prateleira, ao lado de outros tantos, e o deixamos empoeirar para depois reclamar que, além de inútil, só faz ocupar espaço e nos dar trabalho.

Então, meu caro, permita-se, limpe o caminho do que é ruim e mantenha o que o decora. Mas, acima de tudo, acima de tudo mesmo: mude!

 

Um feliz Natal para você e para os seus e que não próximo ano, mas no próximo minuto, consiga ver um dos pequenos e iluminados momentos da sua vida, e que este pequeno momento lhe despeje uma tímida vontade de sorrir!

 

Com muito, muito mais,

 

Seu amigo.

 

 

São Paulo, 10 de dezembro de 2012.

 



© 2015 Rafael Castellar das Neves


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Added on December 4, 2015
Last Updated on December 4, 2015

Desce Mais Uma! - Terceira Rodada


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Rafael Castellar das Neves
Rafael Castellar das Neves

Sao Paulo, Sudeste, Brazil



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Nascido em Santa Gertrudes, interior de São Paulo, formado em Engenharia de Computação e um entusiasta pela literatura, buscando nela formas de expressão, por meio de cr&oc.. more..

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