![]() Sem SentidosA Chapter by Rafael Castellar das NevesEm meus infindáveis pensamentos me pergunto como enganar esse maldito retorno. Já é um tanto óbvia a minha incapacidade frente ao meu obscuro eu. Desculpas mil, efetivos apenas o tempo e as feridas.
Só me resta deixar de alimentar o que existe lá dentro. Aquilo que me dita as regras, os atos, os sentimentos. Sufocá-lo de si.
Um arame fino e maleável seria suficiente para furar permanentemente meus tímpanos. Assim não seria mais preciso ouvir votos falsificados, promessas abortadas desde a concepção, palavras incapazes de serem sustentadas em pleno presente, que apenas me arrastam encantado para o tão próximo nada inatingível.
Com uma faca de pão conseguiria destroçar toda minha cartilagem nasal e ainda danar todo interior dessa fossa. Assim não mais sentiria o perfume lascivo que me vira a cabeça e me condena o corpo, o aroma dos pecados tão desejados que me saciam a alma, a podridão das mentiras inconsequentes tão desconsideravelmente escarradas em meu rosto.
Uma linha reforçada, conduzida por uma fina e pontiaguda agulha, costuraria definitivamente meus lábios um ao outro. Assim não mais propagaria meus malditos sentimentos, não semearia meus doentios pensamentos, nem disseminaria meus tão questionáveis e indesejados desejos " que têm como única função serem armas contra mim mesmo ", e, ainda, não mais saborearia um só pedaço daquilo que só me é oferecido para que possa ser mais prazerosamente negado.
Poderia ainda cravar uma colher abaixo das minhas pálpebras e arrancar das órbitas, com um só firme golpe, meus já tão cansados e insatisfeitos olhos. Assim não mais seria preciso ver aquilo que me tenta, aquilo que me escondem, aquilo que me negam e nem aquilo que causo.
Um machado de cunha bem afiada seria ideal para o fim. Erguendo-o de todo o comprimento de nossos braços, em um único movimento, poderia separar de mim a mão inimiga, para que não mais sentisse a maciez apaziguante, os movimentos tranquilizantes, a textura proibida e desejada, e nem mais quebrasse tudo aquilo que toco na ânsia de trazer para dentro de mim.
Então, só me restaria ao amigo suplicar o último e mais importante dos favores: que suspendesse o cabo pela ponta o mais alto que pudesse e trouxesse o fio abaixo com toda sua força passando despercebidamente pelo pulso derradeiro, livrando-me da mão traidora " a única que poderia me negar toda esta libertação.
São Paulo, 04 de maio de 2009. © 2015 Rafael Castellar das Neves |
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Added on November 30, 2015 Last Updated on November 30, 2015 Author![]() Rafael Castellar das NevesSao Paulo, Sudeste, BrazilAboutNascido em Santa Gertrudes, interior de São Paulo, formado em Engenharia de Computação e um entusiasta pela literatura, buscando nela formas de expressão, por meio de cr&oc.. more..Writing
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