SonsatezA Chapter by Rafael Castellar das NevesHoje entendo essa minha estranha capacidade de perceber as coisas que acontecem ao meu redor. Percebo-as por mais miúdas que sejam, por mais rapidamente que desapareçam, por menor que sejam suas intensidades, mesmo nas mais escuras sombras em que tentam escondê-las. Em algum momento, acreditei quer era um daqueles presentes divinos, um dom, um poder.
Excomungo! Não tem nada de presente, nem é um dom, é uma maldição...maldita!
Quem me dera ser eternamente pleno daquela inocência pueril que apenas me permitia sentir a bondade das pessoas e tecer as mais prazerosas e profundas relações. Quem me dera ser tapado o suficiente para não entender as armadilhas que meus queridos me preparam; apenas as dos pássaros. Quem me dera não ter tido esta curiosidade pela vida que desde meus primórdios me faz descobrir, às duras custas, verdades que pensava não existir em meu mundo. Quem me dera ser bicho do mato, selvagem, para não ter aceitado o cabresto e ter podido correr para longe do entendimento, de volta para minha toca.
Queria não entender as mensagens ocultas reveladas pelos olhos infiéis " contraposições às palavras e atos. Queria ser analfabeto de instinto a ponto de não ler nas linhas, quiçá entre elas. Queria ser tão gélido quanto necessário para manter-me petrificado, impassível fronte aos mais desejados e temidos sentimentos. Irredutível, inabalável.
Precisaria de uma pitada de sonsatez na minha para que ela pudesse ser mais leve e vivível, prezível. Pensando bem, preciso é de um porre disso!
São Paulo, 26 de fevereiro de 2009. © 2015 Rafael Castellar das Neves |
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Added on November 26, 2015 Last Updated on November 26, 2015 AuthorRafael Castellar das NevesSao Paulo, Sudeste, BrazilAboutNascido em Santa Gertrudes, interior de São Paulo, formado em Engenharia de Computação e um entusiasta pela literatura, buscando nela formas de expressão, por meio de cr&oc.. more..Writing
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